A AUFM (Associação Ubatubense de Futebol de Mesa) foi fundada em 1995, por 4 botonistas que disputavam torneios informais na garagem de um deles desde o final de 1993 e desejaram oficializar e fazer crescer a modalidade em Ubatuba, Litoral Norte de São Paulo.
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Junto com a Associação, foi criada uma imprensa amadora própria do meio, feita pelos botonistas e, no início, dirigida apenas para os próprios botonistas. Com o tempo e o natural crescimento da modalidade na cidade, a imprensa “botonística” foi dando lugar a informativos mais sérios e abrangentes, destinados à população em geral, com o objetivo de divulgar aos membros da AUFM e a terceiros, as atividades promovidas pela Associação.
Nossa história começa com o pioneiro dentre os “jornais” da imprensa botonística de Ubatuba: “Os Botões”, que pouco depois de seu lançamento mudou seu nome para “Os Botões do Campo”.
Os Botões do Campo: pioneiro
Editado por Sílvio Fonseca e lançado em Janeiro de 1995, Os Botões era feito “na raça”, em uma, acreditem, máquina de escrever! Isso mesmo. Como não tinha computador, Sílvio tinha que improvisar para conseguir manter sua paixão na época: manter os associados informados sobre os torneios da AUFM. E ele ralava, literalmente, naquela máquina, mas jamais deixava de publicar seu jornal.
Os Botões tinha uma linha editorial interessante: como os torneios eram em cima dos “times” e não dos botonistas (as tabelas traziam, por exemplo, São Paulo versus Flamengo, ao invés dos nomes dos associados), o jornal de Sílvio entrava no embalo e fazia as matérias simulando campeonatos de futebol de verdade. Trazia manchetes como “Coritiba dispara na liderança” e fazia comentários muito engraçados sobre os nome dos botões (cada botonista da época “escalava” seus times).
O visual era simples, prejudicado pelas limitações que a máquina de escrever impunha: não haviam colunas delimitadas e Sílvio tinha que riscar à mão com canetinha as bordas de cada matéria. Tudo pelo amor à informação que prestava.
Foi nessa época que Sílvio publicou o conto “Perdidos no Deserto”, de sua autoria, que saiu em vários capítulos, um por edição (semanal) e durou quase 2 meses. Para comportar o conto e as informações sobre a AUFM, o jornal tinha, às vezes, 2 ou 3 páginas! E tudo datilografado… um trabalho hercúleo, sem dúvida.
O Botão Caiçara: começa a rivalidade
Após meses de “monopólio”, Sílvio passou a ter um “concorrente”. Querendo agitar o “mercado editorial” da imprensa botonística e dar aos associados uma outra versão dos fatos apresentados pelos Botões, Ralph Solera, em Novembro de 1995, lançou seu “O Botão Caiçara”.
O famoso “Caiçarão” era ainda mais pitoresco que o rival: publicava pesquisas de opinião onde era apontado como o melhor jornal da Terra (à frente de New York Times, por exemplo), vinha com anúncios (na verdade, classificados colados no jornal antes dele ser xerocado), slogans do tipo “Caiçarão – O Maior Jornal do Hemisfério” (plagiando descaradamente a Folha) e muita tiração de sarro dos botonistas, cutucando todo mundo e principalmente criando uma “briga” com os Botões, que o Caiçarão chamava de “jornaleco”.
Tudo, claro, na maior amistosidade, afinal, todos os botonistas eram amigos e Ralph e Sílvio não viam a hora de ler as edições do rival para ver quais eram as novas “acusações” lançadas.
O visual do “Maior do Hemisfério” era bem superior ao do rival, afinal, Ralph trabalhava com informática e tinha noções de editoração. Seu jornal tinha infográficos, símbolos dos times nas tabelas e até fotos. As matérias eram assinadas por “Kuka Kfuri” e “Bota Júnior”, por exemplo, e vinha com algumas propagandas institucionais como a da margarina “Delícia Sebosa”.
Descobrindo-se como editor, Ralph começou a acrescentar aos poucos, seções que nada tinham a ver com futmesa: contos, notícias de futebol de campo, resultados da Loteria Esportiva, e matérias fictícias sobre diversos assuntos, como a derrubada do então presidente FHC pelo PUTO (Partido Ubatubense dos Trabalhadores Ocasionais) e os amistosos que o Milan de Van Basten vinha realizando em Ubatuba (sendo sempre impiedosamente goleado em quase todos).
O sucesso do “Caiçarão” e a preocupante desvantagem estética, fizeram Sílvio “fechar” seu informativo na edição 30, de 15 de Junho de 1996.
Na verdade, ocorreu naquela data a primeira “jogada editorial” da História da imprensa botonística de Ubatuba. Sílvio entregou aos associados, no mesmo dia, seu último Os Botões e o número 1 do seu novo jornal: “A Palheta”, editado em conjunto com Cláudio Oliveira Júnior, também fundador da AUFM.
Agora com um computador à mão e a ajuda de Cláudio, o jornal A Palheta tinha tudo para derrubar o “Caiçarão” e voltar a reinar absoluto. Certo? Errado. Os dois editores não se entendiam quanto às questões técnicas, à linha editorial e até sobre os assuntos abordados. Pra piorar, Cláudio atacava Sílvio em suas colunas e Sílvio revidava nas suas.
O jornal A Palheta durou apena 9 números!
Desiludido com a parceria frustrada e a falta de condições para editar um jornal com a qualidade que ele achava necessária, Sílvio ficou um tempo sem publicar nenhum informativo. Foi então que na entressafra de torneios daquele ano, que durou alguns meses, Sílvio realizou um campeonato de palavras-cruzadas em sua casa e, com um recém adquirido computador do escritório de seu irmão, começou a editar o “PC News”. Pronto! A paixão pelos informativos renascera no fundador da AUFM e o PC News já era semanal, como seu antecessor Os Botões e seu concorrente Botão Caiçara.
PC News: a “Era de Ouro” em seu auge
Quando os torneios de botão recomeçaram, no início de 1997, teve início a “Era de Ouro” da imprensa botonística de Ubatuba: semanalmente, PC News e Botão Caiçara informavam os associados da AUFM à respeito dos torneios que estavam sendo disputados, dos que foram disputados e dos que seriam disputados! Falavam das “contratações” de botões entre um torneio e outro, tiravam sarro dos botonistas e, claro, digladiavam-se em acusações de manipulação de informação, matérias infundadas, erros de português e tudo mais que um jornal podia acusar o outro.
Tudo isso, claro, com muito, muito humor e amistosidade, sem ofensas nem baixarias. Tudo em clima de brincadeira e camaradagem entre os dois editores rivais.
Foi nessa época que “explodiu” o mercado editorial do ramo botonístico em Ubatuba, caracterizando a tal “Era de Ouro” da nossa imprensa botonística, e até hoje lembrada com muito carinho por todos que dela “participaram” na época.
Os demais associados, que viram-se no meio da “guerra” entre PC News e Caiçarão, acabaram “fisgados” pelo clima e pouco a pouco viram-se motivados a fazer parte daquela brincadeira.
Foi então que surgiram os informativos “Bola na Mesa” de Bittencourt Jr, que caracterizava-se por dizer que Júnior era o melhor botonista do mundo e por aí seguia, falando quase que esclusivamente dele; “Rebatendo a Bola”, do arqui-rival de Bittencourt, seu amigo (ou inimigo?) Ednelson Prado, que procurava rebater (claro, daí o nome) tudo o que saía no concorrente e provar que tanto Bittencourt quanto seu jornal eram uma fraude; “A Bola”, de Jonas Campos, que procurava criar polêmica entre os jornais “pesos pesados” e entre alguns associados; e o “Jornel – o Jornal do Daniel”, editado por Daniel Gusmão, que só contestava a Diretoria da AUFM, procurando falhas em tudo que podia, para poder tirar sarro.
Enquanto o mercado crescia, o “Caiçarão” continuava firme e forte. Cutucava os rivais, chamando o PC News de “jornaleco manso e mirrado” e os outros de “reles pasquins de primário”; publicava histórias de super-heróis, cruzadinhas, bastidores do mercado de botões de Ubatuba e entrevistas com associados.
Quando completou 100 números publicados, em 29 de Março de 1998, mudou o logotipo e a diagramação (mudança anunciada desde o número 90, onde dizia que em breve sairia a “Edição do Século”). Na edição #100 (de 18 páginas!), publicou uma cruzadinha gigante e ofereceu R$ 1 milhão a quem a completasse (era impossível acertar alguma pergunta, quanto mais completá-la), muitas propagandas institucionais (Semprifushika, Parmaláte, etc) e publicou matérias que provavam que o PC News funcionava sem alvará, em prédio irregular e etc.
Pena que os chamados “pequenos concorrentes” não duraram muito. Bittencourt, Ednelson e Jonas viram como era trabalhoso escrever, diagramar, copiar (“xerocar”) e distribuir uma edição semanal de seus respectivos jornais.
Novo “Caiçarão”: diagramação diferente
A empolgação dos novos editores esfriou em poucos meses e somente o Jornel continuou sobrevivendo contra os grandes PC News e “Caiçarão”.
Em 1998 e 1999, só os dois “poderosos” tinham suas edições semanais e o Jornel saía uma vez a cada 3 ou 4 meses… e olha lá! Foi nessa época que ocorreu o “Plágio do Milênio” e outras acusações hilárias entre os rivais.
A “Era de Ouro” durou exatamente até o “fechamento” do Botão Caiçara, em Fevereiro de 2000.
Na verdade, ocorria a segunda “jogada editorial” da imprensa botonística de Ubatuba: Ralph Solera anunciou o fechamento do “Caiçarão”, publicou o último número e não tocou mais no assunto “jornal”. Secretamente, porém, ele passou a ajudar Daniel a tornar seu Jornel semanal, colaborando com textos e editoração. Em troca, pedia apenas para Daniel manter segredo sobre a ajuda e deixá-lo usar o rodapé do Jornel para publicar uma imagem metálica simulando uma plaquinha de metal onde se lia: “Você é um Bocolice?”. Ninguém entendia nada e a situação continuou assim até o ano seguinte.
Infortrex: profissionalismo inédito
Em Janeiro de 2001, primeiro mês do novo milênio, cada associado da AUFM recebeu em sua casa (feito inédito ate então) o “Infortrex”, novo jornal de Ralph Solera, que inaugurava uma nova “Era” na imprensa botonística de Ubatuba: a do profissionalismo.
Acompanhando as mudanças ocorridas na AUFM, que passou a adotar a bolinha de feltro e a regra 12 toques em detrimento da pastilha e a regra caiçara, para “profissionalizar-se”, o Infortrex foi uma novidade absoluta, a começar pelo seu formato: uma página A4 dobrada ao meio na horizontal, dando a ele um formato de “revista”.
Além disso, era sério e não tinha mais humor ou tirações de sarro: era voltado ao público em geral e não só botonistas, pois pretendia levar à população ubatubense os eventos da AUFM. A partir dele, tudo mudou na imprensa botonística de Ubatuba.
O Infortrex tinha colunas sobre Fórmula 1 e Tênis, TV e esportes em geral, além do futebol de mesa, claro.
Foi também o primeiro (e até agora único) a ter propaganda real! Na verdade, os anúncios que apareciam nas páginas do Infortrex eram do colégio e da copiadora que “patrocinavam” o jornal (o colégio dava as folhas e a copiadora não cobrava pelas xérox). Nele também escreviam, como colunistas, os associados Bittencourt Jr e Alexandre Augusto, além de um designer gráfico chamado Jorge Basso, que nem jogava botão, mas gostava de contribuir com o jornal, que ele lia assiduamente.
Ah! No número 1 do jornal, foi explicado que “Bocolice” era quem lia o PC News, ao invés do Infortrex… ou seja: se você não fosse um bocolice, tinha que ler o Infortrex! Essa foi a única “alfinetada”, bem sutil e disfarçada, que o jornal deu no seu concorrente, PC News.
O Infortrex, que tinha uma edição mensal, durou até Julho de 2004, quando Ralph, com dois empregos que o faziam trabalhar das 8 da manhã à meia-noite, teve que parar de editar seu amado jornal. O Infortrex voltou em 2006, parou de novo por um tempo, e voltou de vez em 2011, quando as competições temáticas também voltaram (ver abaixo).
Ou seja, de 2006 a 2011, o informativo de Sílvio Fonseca (que em 2003 voltou a se chamar A Palheta) passou a ser, como no começo, o único da imprensa botonística de Ubatuba, só que seguindo a linha inaugurada pelo Infortrex: seriedade e informação precisa ao invés de humor e tirações de sarro, com matérias voltadas para os associados e outras para a população em geral.
O hiato pós-Infortrex
De 2006 a 2011, como já dito, apenas a versão nova do A Palheta circulou entre os botonistas de Ubatuba.
Nesse período de hegemonia, Sílvio Fonseca editou sozinho o informativo que trazia as notícias do futebol de mesa ubatubense e, sempre que possível, do resto do país! Sim, porque, além de publicar as notícias dos torneios da AUFM, Sílvio agora vivia vasculhando a Internet atrás de matérias sobre eventos espalhados pelo Brasil.
Além das notícias, Sílvio publica links e curiosidades sobre futmesa em seu informativo, lembrando sempre os leitores de acessar os sites da AUFM e do FutebolDeMesaNews.Com.Br, o portal nacional do futmesa da época, que ele visitava diariamente.
Sílvio costumava editar seu jornal nas noites de Domingo e, na Segunda-Feira, abdicava de sua hora de almoço para correr pelo centro da cidade e deixar seu A Palheta em diversos murais de supermercados, escolas, associações, rodoviária, pontos de ônibus e repartições públicas.
Também passava pelas casas e escritórios de vários associados para deixar “na mão” de todos sua mais nova edição. Distribuía exemplares entre os políticos e empresários da cidade, para ver se trazia mais “simpatizantes” para o esporte. Enviava religiosamente seu informativo às rádios da cidade que, de tanto o receberem, começaram a repassar aos ouvintes algumas informações recebidas. Alimentava ainda diversas páginas na Internet com as notícias do nosso futebol de botão. Foi um verdadeiro batalhador da “causa” futmesa. Mesmo quando não fez parte da Diretoria da AUFM, sempre contribuiu com seus informativos, transformados em blogs a partir de 2018.
Novo Infortrex: alta qualidade no retorno
Em 2011, o então presidente da AUFM, Ralph Solera, implantou um projeto que trouxe de volta as competições temáticas, jogadas na pastilha e com os times brasileiros, caiçaras e até internacionais.
A medida visava o retorno de alguns antigos associados que haviam parado de jogar quando a bolinha de feltro e a Regra 12 Toques foi implantada, em 2001.
O projeto foi um sucesso absoluto e acabou resgatando por completo o calendário temático da AUFM, e até aumentando-o, com torneios caiçaras de clubes, torneios internacionais e até mundiais.
Para coroar o retorno da pastilha, 10 anos depois, a SolePress voltou a publicar o Infortrex, que voltou devidamente modernizado: saiu o branco e preto e entraram as cores e a alta definição; o formato passou a ser também eletrônico e a diagramação aproximou o “Jornal da Era Vortrex” das revistas de verdade como nenhum jornal botonístico de Ubatuba havia conseguido antes.
O novo Infortrex, no entanto, voltou com uma linha que mescla o pioneiro “Caiçarão” com a primeira versão do próprio Infortrex, informando com muito bom humor sobre os eventos promovidos pela AUFM, mas somente os que são da série temática.
O novo Infortrex foi mensal de 2011 ao fim de 2015. A partir de então, tem tido edições com periodicidade incerta, mas pelo menos uma edição com resumo anual tem saído desde 2016.
Veja aqui a edição mais recente do jornal Infortrex da SolePress do Brasil S/A; e aqui a última edição disponibilizada pela Silcefon Editora Ltda. do jornal A Palheta News (por questões contratuais, as edições recentes do jornal do Sílvio estão disponíveis apenas no site oficial do mesmo, que você pode conferir aqui).
1 comentário
os jornaizinhos de vcs ai de Ubatuba tem uma historia muito rica e duradoura parabens!