Goleiros antigos de caixas de fósforo

A Associação Ubatubense de Futebol de Mesa foi fundada em 1995 para promover torneios de botão na cidade de Ubatuba. Hoje, devidamente atualizada, a entidade joga principalmente sob a regra 12 Toques, mas no início a coisa era bem diferente…

Em um tempo em que a Internet ainda era recém nascida, o intercâmbio de informações era muito mais complicado e, por isso, a AUFM criou “regras próprias” para a disputa dos torneios, baseadas em lembranças de comentários feitos por amantes do futmesa das antigas e, para completar, ítens acrescentados de acordo com sugestões dos praticantes que faziam parte da associação em seus primórdios.

Assim a regra “Caiçara” surgia com similaridades com a 12 Toques de hoje, mas muitas diferenças, principalmente na proximidade com o futebol de campo, pois previa rebote, impedimento, expulsões, etc.

Uma das particularidades da regra “Caiçara” era o uso das antigas traves de plástico (dos extintos “Estrelões”), o que exigia o uso dos mitológicos goleiros feitos de caixas de palitos de fósforo, devido ao tamanho diminuto das medidas das traves.

Como as primeiras competições organizadas pela AUFM eram as versões locais do Campeonato Brasileiro, os participantes recortavam nos jornais os símbolos dos times nacionais e colavam nas caixas de fósforos que eram usadas como goleiros.

Incomodado com o visual feio das caixinhas, que destoava dos times usados, Ralph Solera, um dos fundadores da AUFM, passou, então, a confeccionar “uniformes” para os goleiros dos times participantes.

Numa época em que nem todos tinham computadores e, quem tinha, dificilmente possuía uma impressora colorida, o jeito encontrado para fabricar as “vestimentas” foi o seguinte: Primeiro, Solera definia como seria o layout do “uniforme” (se com listras verticais, horizontais, com símbolo no centro, no canto, etc). Definido o layout, Solera o desenhava com régua e lápis em uma folha de papel em branco.

Depois de desenhado o layout no papel, vinha o mais difícil e trabalhoso passo, o de pintar as áreas coloridas. Sem outros recursos à disposição, a saída encontrada foi fazer a pintura com caneta esferográfica (tipo Bic), através de retas traçadas com régua, umas juntas às outras, de modo que o resultado era uma área pintada de modo satisfatoriamente homogêneo. No layout, às vezes deixava-se reservada uma área, nas “costas”, para a futura colocação do número 1, nos casos em que era necessário, pois em outros o número destacava-se pelo contraste das cores escolhidas.

Depois de pintar as áreas coloridas, chegava a hora de “plastificar” tudo. O processo era feito com aplicação de fita colante transparente (tipo Durex), daquelas mais grossas, que cobriam exatamente a largura da arte (4,5 cm de largura). Como cada parte era feita separadamente (frente, costas e laterais), cada uma delas era plastificada individualmente.

Finalizado o “uniforme” que seria aplicado, era a hora de preparar a caixa de fósforos para receber a roupagem. Primeiro, enchia-se a caixa com areia e algumas pedrinhas para dar peso ao goleiro, e depois a etiqueta do fabricante dos fósforos era totalmente retirada (um trabalho muitas vezes difícil, para não deixar vestígios que pudessem aparecer sob o papel branco).

Por fim, a caixa recebia um “fundo”, que era uma folha de papel totalmente em branco (também “plastificada”) que a cobria totalmente, permitindo que a arte pintada à caneta previamente pudesse ser aplicada por cima, como se fosse um adesivo.

Tudo preparado, era chegada a hora de “vestir” o goleiro. As artes eram coladas nas respectivas posições (frente, costas e laterais) com a ajuda de mais fita colante transparente, sempre procurando mantê-las em posição centralizada, deixando as laterais livres para exibirem o “fundo” branco. Depois, o processo era repetido para a colocação dos números nas costas e dos símbolos nas frentes. Os números eram feitos também com caneta esferográfica e plastificados previamente, e os símbolos recortados de revistas.

Alguns detalhes eram necessários ser observados, para garantir um bom resultado: o papel devia ser de boa qualidade, assim como a fita crepe transparente, para evitar que o goleiro não ficasse, poucos meses depois, com o visual “amarelado”. Graças a esse cuidado, quase todos os goleiros têm, ainda hoje (15 anos depois), uma aparência perfeita, como se fossem novos. Também era necessário que o símbolo do time fosse recortado de uma revista com boa definição (coisa que os jornais não possibilitavam) para manter o padrão visual.

Alguns poucos goleiros, como um cinza do Fluminense e um vermelho do Inter, por exemplo, foram feitos de maneira um pouco diferente, com plástico colorido servindo de “fundo”, ao invés de papel sulfite, e outra exceção foi um goleiro do São Paulo que usou papel alumínio, mas são poucas as exceções.

Terminado o goleiro, todo um ritual era feito para sua “estreia”, com direito a matérias nos jornaizinhos publicados pelos botonistas. No fim da temporada, uma eleição apontava o goleiro mais bonito dentre os utilizados.

Como se pode ver pelas fotos que ilustram essa matéria, apesar de terem quase três décadas de existência, a maioria dos goleiros continua com visual impecável, como se fossem novos.

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