O bizarro “mando de música”

Logo após a fundação da AUFM, os poucos botonistas de Ubatuba que disputavam a antiga Soccer Cup (conhecida depois como Campeonato Brasileiro), disputavam torneios na varanda de Luciano Caliani, em apenas uma mesa tipo “estrelão”, com bolinha tipo “pastilha” e com a Regra Caiçara.

A regra era bastante parecida com a atual 12 toques, mas com algumas particularidades. A mais “bizarra” delas foi a instituição do “mando de música”, no final de 1994.

Como, na época, a regra caiçara possibilitava aos botonistas disputarem partidas “narrando” suas jogadas (o que nunca causou problemas, já que eram todos amigos), o hoje tão valorizado silêncio durante um jogo, não existia nos torneios em questão. Os botonistas narravam suas jogadas, tal qual um locutor de TV, e comemoravam efusivamente seus gols. As partidas tinham juiz e, as vezes, até bandeirinha, que, vejam só, tornavam-se “comentaristas” dos lances de gol.

Como todos os torneios eram disputados na mesa de Luciano Caliani, os demais participantes começaram a sugerir regras que diminuíssem uma suposta vantagem dele por jogar sempre “em casa”. Assim, surgiram as regras que previam a escolha de campo ou bola do mandante de jogo (e não via sorteio), da obrigatoriedade de trocar de time quando as cores confundissem (o “visitante” tinha que trocar), e por aí vai. As tabelas eram sempre feitas em 2 turnos para que todos se enfrentassem “em casa e fora”, inclusive nas finais.

Assim, em 1995, após um leve desentendimento entre dois botonistas sobre qual música deveria tocar no aparelho de som que ficava na varanda e fornecia o “som ambiente” que acompanhava os torneios, foi criado o “mando de música”, que permitia ao mandante da partida escolher o que deveria tocar durante o jogo em que ele era o “dono da casa”.

Enquanto a regra vigorou (cerca de 3 meses), uma autêntica “guerra” foi travada no aparelho de som de Luciano. Os botonistas descobriram quais estilos, bandas e cantores eram “odiados” pelos outros e providenciaram CDs e fitas K7 com um repertório feito sob medida para fazer subir a pulsação dos adversários durante as partidas.

Muitos gêneros musicais foram tocados durante esse período, que culminou com a ópera “Nabucco”, de Giuseppi Verdi, sendo entoada no segundo jogo da finalíssima do 8º Campeonato Brasileiro AUFM, cujo mando de jogo pertencia a Ralph Solera, contra Luciano Caliani.

Depois disso, para reforçar a provocação, o gênero das “obras” tocadas foi caindo, e antes que o mando de música virasse motivo de brigas, a regra foi revogada e ficou proibida a execução de música durantes as partidas de botão da Série Temática na AUFM.

Gostou? Compartilhe!

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.